O Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) realizou, nos dias 16 e 17 de março, o 1º Encontro Nacional de Bibliotecas do Poder Judiciário. O evento aconteceu no Centro de Treinamento da Justiça Federal (Centrejufe), em Brasília, e reuniu magistrados e mais de 200 profissionais do ramo, dentre os quais, a responsável pelo Setor de Biblioteca da Seção Judiciária do Piauí, Eliana Candeira Valois, para compartilhar boas práticas, discutir o futuro das bibliotecas e debater o atendimento às necessidades estratégicas dos tribunais.
A cerimônia de abertura contou com a participação do diretor da revista do TRF1, desembargador federal Ney Bello, representando o presidente do Tribunal; da conselheira do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) Salise Monteiro Sanchotene; do juiz de direito do Tribunal de Justiça de São Paulo Carlos Alexandre Böttcher, integrante do Comitê Gestor do Programa Nacional de Gestão Documental e Memória do Poder Judiciário (Proname); juiz federal em auxílio à Corregedoria Nacional da 1ª Região, Ilan Presser; e da coordenadora do 1º Encontro Nacional, a diretora da biblioteca do TRF 1ª Região, Marília Mello.
Primeira a se pronunciar no evento, a diretora da biblioteca do TRF1 ressaltou a necessidade de reconhecimento do papel crucial que as bibliotecas desempenham no Poder Judiciário.
“Não há como acessar uma informação técnica e confiável sem que ela seja devidamente analisada e tratada. As bibliotecas são guardiãs do conhecimento jurídico, e desempenham papel essencial para garantir que os tribunais sejam capazes de operar de maneira eficiente e eficaz”, afirmou.
“À medida que avançamos para o futuro, nós bibliotecários devemos nos conscientizar da necessidade de inovar e de nos adaptar às mudanças do cenário relacionado à informação e à tecnologia”, pontuou ainda.
Em nome do diretor da Escola de Magistratura Federal da 1ª Região (Esmaf), o juiz federal Ilan Presser afirmou ser uma honra sediar esse primeiro encontro e justamente em um momento de reconhecimento das mudanças na forma como se aprende o conhecimento para fundamentar as decisões judiciais: há facilidades, mas as distrações aumentam, necessitando debate e reflexão. Integrante do Proname, o juiz federal de direito Carlos Alexandre Böttcher também ressaltou a importância de se reunirem para pensar o futuro das bibliotecas e a valorização desse mecanismo cultural.
A conselheira do CNJ, Salise Monteiro Sanchotene, por sua vez, ressaltou que o Conselho apoia a realização deste primeiro encontro por reconhecer a importância da biblioteca e da gestão do conhecimento como setores estratégicos dos órgãos do Poder Judiciário, vetores fundamentais para a memória, para a inovação e para o planejamento.
“A organização da legislação, da produção científica, normativa jurisprudencial dos tribunais, a compilação da produção intelectual dos seus integrantes, a pesquisa, entre outros, constituem evidentemente importantíssimas atribuições das bibliotecárias e bibliotecários que trazem incomensurável auxílio à atividade jurisdicional dos órgãos do Poder Judiciário”, pontuou.
Último a se pronunciar na cerimônia de abertura e primeiro palestrante do 1º Encontro Nacional de Bibliotecas, o desembargador federal Ney Bello parabenizou em especial à nova geração do judiciário que tem preocupação com a gestão do conhecimento. “Que possamos transformar essa relação com o livro e com o conhecimento o mais prazerosa possível”, afirmou.
Eliana Candeira Valois, responsável pelo Setor de Biblioteca da SJPI
Palestra inaugural: a Biblioteca de Babel como o conhecimento e a gestão do Poder Judiciário
Desejando abordar o tema por meio de uma perspectiva literária, o desembargador federal Ney Bello baseou sua fala em metáforas das obras do célebre escritor Jorge Luis Borges como “A Biblioteca de Babel”, “Funes, o Memorioso” e “O Aleph”. A partir dessas metáforas, o desembargador federal falou sobre diversas necessidades que enxerga no tempo que corre.
“Sempre pensei no Paraíso como uma espécie de biblioteca”. Com essa frase de “A Biblioteca de Babel”, o desembargador federal abordou a ideia da biblioteca que é ao mesmo tempo acessível e inacessível. “Borges constrói essa metáfora para nos dizer que o conhecimento estará sempre vinculado à capacidade que as sociedades humanas tiverem de acessar esse conhecimento”, analisou o desembargador federal.
Há duas chaves na questão de Borges: a primeira, possibilidade de acumular todo o conhecimento em escadas, portas, estantes; a segunda, dificuldade que o não conhecimento desses signos, desses sinais e desses vetores de acesso podem causar para todas as pessoas.
Na segunda metáfora apresentada pelo desembargador federal Ney Bello, presente no conto "Funes, o Memorioso", há um homem com uma memória absoluta, porém, impossibilidade de trabalhar com ela. “O saber absoluto por acúmulo sem o uso da racionalidade e sem a possibilidade de jogar ideias fora ou de descartar mensagens ou informações tornam o homem inepto, sem aptidão alguma para a sociedade”, explicou ainda o desembargador federal.
Já na terceira metáfora, no conto “O Aleph”, ele falou sobre a peça que dá a mais absoluta demonstração do espaço, mas um espaço tão grande e complexo que impossibilita que alguém absorva tanto conhecimento.
O magistrado reforçou a ideia de que não temos como viver sem o conhecimento que nasce nas bibliotecas, pois, uma vez perdido, perde-se também o conhecimento sobre o funcionamento de uma sociedade e as possibilidades de ser ou não ser dessa mesma sociedade.
“Nós substituímos paulatinamente as escadarias de Babel, do Borges, os portais de Babel do Borges pela velocidade da informação”, afirmou. “O conhecimento é tão rápido e tão acumulado que ele se substitui a um conhecimento que não é o mesmo que o conceito de formação”, salientou. “Somos muito mais informados e muito menos formados”.
(Com informações da Ascom do TRF1)