O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta sexta-feira que a atual elevação mundial do preço dos alimentos é uma "inflação boa", que "convoca" os países a produzir mais e atender à demanda por alimentos no mundo.
Em uma entrevista a jornalistas brasileiros em Haia, na Holanda, Lula voltou a repetir a sua visão positiva sobre o encarecimento dos gêneros alimentícios, contrariando os alertas, em tom mais sombrio, de organismos como o braço da ONU para a alimentação, a FAO.
"A inflação sobre os alimentos é decorrente do fato de que as pessoas estão comendo mais", disse Lula.
"Ora, na medida em que mais gente começa a comer carne, produtos de soja, trigo... se a produção de alimentos não aumentar, obviamente que nós vamos ter inflação."
Nas últimas semanas, a ONU alertou para a alta dos alimentos, que significaram a duplicação dos preços das matérias-primas desde 2007.
Organismos internacionais alertam para os efeitos nocivos da alta de preços de gêneros básicos.
O encarecimento já afeta importantes programas de combate à fome, como o Programa Mundial de Alimentos da ONU, que precisa suprir um rombo de US$ 500 milhões, disse na quarta-feira o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick.
Quase no mesmo instante, o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, conclamava o G8, o grupo das sete economias mais industrializadas do mundo e a Rússia, a discutir o problema.
Lula disse que este fenômeno é "uma inflação boa". "Por quê? Porque está nos provocando a produzir mais", argumentou.
"Os sinais de inflação nos alimentos, demonstrando que o povo está comendo mais, são uma boa provocação e ao mesmo tempo uma convocação ao mundo de que se precisa produzir mais alimentos." Brasil No caso brasileiro, Lula deu a entender que a inflação está sob controle, porque o governo sabe onde estão ocorrendo os aumentos.
Segundo ele, só o feijão e o leite representam 0,7 ponto percentual no índice de 4,5% ao ano. Sem eles, "a inflação seria de 3,8% ou seria de 2,9% se houvesse menos aumento de alguns produtos", disse Lula.
Ele afirmou que é possível combater esta alta com um aumento equivalente na produção de alimentos. "O feijão, em três meses se planta e colhe", exemplificou.
Lula afirmou ainda que pediu ao Ministério da Agricultura que comece a "trabalhar a possibilidade" de fazer com que o Brasil se torne auto-suficiente na produção de trigo, matéria-prima de produtos básicos importantes, como o pãozinho e as massas.
Segundo o presidente, a idéia é que os ministérios ligados à economia e à produção alimentícia estudem "os produtos que estão incidindo sobre a inflação, para ter políticas especiais de incentivo a esses produtos".
O presidente voltou a citar números que mostram a disponibilidade de terras no Brasil: 400 milhões de hectares de terras aráveis, dos quais se aproveita "muito pouco".
"(Precisamos) produzir mais arroz, mais milho, feijão, produzir mais as coisas que nós consumimos, não apenas para consumo interno, mas também para exportação. Nós temos uma enormidade e um potencial fantástico para que a gente possa aumentar nossa produção agrícola, atender aos interesses do povo brasileiro e atender a uma parte do mundo."
Juros
Lula disse que a alta dos alimentos não precisa ser necessariamente combatida através da alta dos juros, embora ele tenha ressaltado que esta é uma decisão que cabe ao Banco Central.
"Os juros irão aumentar quando for necessário aumentar, e cair quando for necessário cair. Eu tenho dito ao ministro (presidente do Banco Central), Henrique Meirelles e ao ministro (da Fazenda) Guido Mantega que não volte à tensão cada vez que o Copom (Comitê de Política Monetária) for se reunir", declarou Lula.
"Não será nem a redução de 0,25 (ponto percentual) nem a manutenção (dos juros) em 11,25 nem o aumento de 0,25 que trará qualquer transtorno à economia brasileira."
"Nesse momento, não tem por que ficar com nervosismo. A economia está bem, a economia está crescendo, o crédito está crescendo, a demanda está crescendo, a produtividade está crescendo. Se você tem um aumento sazonal de um produto, você pode corrigir no próximo trimestre ou no próximo quadrimestre. O momento é de menos palpite e mais tranqüilidade para ver as coisas acontecerem", completou Lula.