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21/04/2008 -

PF investiga participação de juíza em esquema que envolve prefeitos

PF investiga participação de juíza em esquema que envolve prefeitos

OPERAÇÃO PASÁRGADA

São Paulo, SP - terça-feira, 22 de abril de 2008



OFENSIVA - Operação Pasárgada prendeu l7 prefeitos, além do juiz Weliton Militão, mas todos os suspeitos já foram libertados

Ângela Catão não está entre denunciados, mas polícia avalia que ela tem ligações com operador de fraudes

Fausto Macedo

Trezentas páginas que compõem o inquérito federal 671/07 narram passo a passo como operava o esquema de liberação de recursos do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e apontam para o suposto envolvimento da juíza Ângela Maria Catão Alves, da 11ª Vara Federal de Belo Horizonte.

O documento, sob guarda da Corregedoria do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1.ª Região (Brasília) e da Procuradoria da República, sustenta que a magistrada “tem plena consciência” de que Francisco de Fátima Sampaio - gerente afastado da Caixa Econômica Federal na capital mineira - representa os interesses de Paulo Sobrinho de Sá Cruz, lobista e dono do escritório PCM Consultoria Municipal.

Pelo menos dois juízes teriam ligações com a organização, segundo a Polícia Federal: Weliton Militão dos Santos, da 12.ª Vara Federal de Belo Horizonte, e Ângela Catão.

Há 12 dias a PF deflagrou a Operação Pasárgada e prendeu 17 prefeitos, 15 de Minas e 2 da Bahia, além do juiz Militão. Todos os suspeitos já foram libertados. A Corte Especial do TRF avaliou que o desembargador-corregedor Jirair Aram Meguerian, que decretou as prisões, não tinha função jurisdicional para tomar tal medida - e todos os atos que praticou seriam ilegais.

Na semana passada, o Ministério Público Federal denunciou o caso à Justiça e pediu ação penal contra Militão, o gerente da Caixa e outros servidores da União, por corrupção e lavagem de dinheiro. A PF afirma que Sá Cruz seria o mentor do golpe e o elo das prefeituras com a toga federal para resgatar verbas retidas. A trama teria provocado desfalque de R$ 200 milhões no Tesouro, nos últimos 3 anos.

RELAÇÕES PRÓXIMAS

Ângela não está entre os denunciados pela procuradoria, mas a PF avalia que ela mantém relações próximas com Sampaio, da Caixa. “Importante ressaltar a forma com a qual a juíza Ângela Catão recebe em seu gabinete o gerente da Caixa”, assinala o inquérito, à página 98.

A investigação rastreia duas operações de liberação de dinheiro do FPM para a Prefeitura de Conselheiro Lafaiete (MG), em 10 de julho e em 10 de agosto de 2007, que resultaram na captação de R$ 766,8 mil. A PF informa que, em uma das ações, os autos foram retirados pela Procuradoria da Fazenda Nacional em 4 de julho e devolvidos 22 dias depois.

Nesse intervalo, em 10 de julho, a juíza teria despachado na mesma petição que o gerente da Caixa lhe entregara, “comprovando a defesa de interesses privados perante a Justiça Federal”. No dia 11, ela ordenou expedição de ofício à Receita.

“Tal movimentação somente foi registrada no site da Justiça Federal em 30 de julho, 20 dias depois da decisão mandando desbloquear os valores, sem possibilidade de defesa para a Fazenda Pública, atendendo com eficiência aos interesses da organização criminosa”, acusa o inquérito. “Os valores foram efetivamente desbloqueados em agosto, com a decisão da juíza Ângela Catão, conforme extrato do Banco do Brasil.”

HAPPY HOUR

Do auto de vigilância 03/2008 constam filmagens e diálogos interceptados que indicam a movimentação da organização para liberar valores do FPM de Lafaiete. Segundo a PF, o lobista Sá Cruz bancou contratação da dupla sertaneja Marcos e Santiel para animar happy hour na 11.ª Vara. Grampo mostra o gerente da Caixa contando ao lobista que “deixou claro” à juíza que foi ele, Sá Cruz, quem patrocinou o evento.

A interceptação revela que no dia 11 de julho o lobista cobra do gerente da Caixa retorno sobre a petição à juíza. “É... pois é... ela já deferiu tudo o que você pediu”, responde Sampaio.

No dia seguinte, a conversa sobre os sertanejos. O gerente pergunta a Sá Cruz sobre a possibilidade de “levar os meninos lá pra doutora ver o showzinho”. Dia 13, o lobista liga para o gerente e diz: “A comadre é quente.” Segundo a PF, era uma referência à juíza, que já havia oficiado à Receita. Sampaio gaba-se: “Comigo não tem brincadeira não, ué.”

O relatório da investigação é incisivo, à página 100: “Vê-se que Sampaio goza de toda a intimidade de drª Ângela, inclusive esta conversa com ele sobre processos e despacha petições a ela levadas pelo gerente da Caixa, que não é advogado, nem procurador das partes.”

Segundo a PF: “A juíza aceita apresentação gratuita dos cantores empresariados por Sá Cruz; consegue, através de Sampaio, obter financiamento para Vany, sua empregada, de forma aparentemente ilegal; e pede a Sampaio para conseguir a compra de um carro muito mais caro do que aquele que ela dará em pagamento.”


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