GABRIELA GUERREIRO
da Folha Online, em Brasília
Os senadores de oposição esvaziaram a CPI mista (com deputados e senadores) dos Cartões Corporativos em represália à decisão da base aliada do governo de "blindar" o Palácio do Planalto e a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) nas investigações. A estratégia dos oposicionistas é abandonar a primeira CPI dos Cartões para que a nova comissão, criada nesta terça-feira, avance na apuração das irregularidades no uso dos cartões.
"Para mim, essa CPI acabou na semana passada quando rejeitaram todos os requerimentos de convocação. A comissão está realizando depoimentos sem valor jurídico, não atende às prerrogativas da CPI. Todas as convocações foram transformadas em convite", criticou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
Na reunião desta quarta-feira, somente os deputados Vic Pires (DEM-PA) e Índio da Costa (DEM-RJ) representam a oposição no depoimento do diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Paulo Lacerda. Os demais integrantes da oposição desistiram de participar depois que a nova CPI foi criada no Senado.
Ao contrário dos senadores, porém, os deputados de oposição não defendem a instalação da nova CPI porque não terão espaço nas investigações. "Uma nova CPI vai criar mais problemas. Podemos continuar as investigações aqui com serenidade", afirmou Pires.
Apesar da mobilização em favor da nova comissão, os senadores de oposição reconhecem que serão minoria nas investigações. Dos 11 integrantes da CPI do Senado, oito vagas são destinadas a partidos que integram a base aliada do governo. DEM e PSDB esperam que o PMDB e o PDT --que reúnem "dissidentes" ao Palácio do Planalto --indiquem parlamentares mais alinhados com a oposição.
Líderes dos dois partidos também apostam que, com a nova CPI, poderão recorrer ao plenário do Senado para a aprovação de requerimentos de convocações e quebras de sigilo rejeitados pela comissão. "Não há equilíbrio na nova CPI. Eu sou favorável que se instale porque é um fato político, além do recurso ao plenário. Às vezes, no plenário, a dissidência ao governo se alarga. Mas vamos ter dificuldades", reconheceu Dias.
Esvaziado, o depoimento do diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Paulo Lacerda, à CPI durou menos de duas horas.
Instalação
Depois de criada nesta terça-feira, a nova CPI dos Cartões Corporativos será instalada quando os líderes partidários indicarem os nomes de senadores que vão integrá-la. Os líderes do DEM e PSDB, José Agripino Maia (RN) e Arthur Virgílio (AM), prometeram acelerar a escolha dos integrantes para que a CPI dê início aos trabalhos na semana que vem.
Os governistas também prometem celeridade na indicação dos membros. O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), disse que vai escolher "o mais rápido possível" os governistas que vão compor a comissão.
"Não vai haver demora, a base do governo vai indicar rapidamente. Se há posicionamento político dos partidos de oposição, haverá também posicionamento político dos líderes do governo", afirmou.
A determinação dos aliados, porém, é indicar para a CPI parlamentares alinhados com o Palácio do Planalto. O governo quer evitar que a oposição, com maior poder de fogo no Senado, consiga apoio para quebrar o sigilo de gastos da Presidência da República com cartões e convocar autoridades como a ministra Dilma.