A CPI mista dos Cartões foi criada ontem, mas os dois maiores partidos da oposição, DEM e PSDB, ameaçam não participar das investigações porque as lideranças do PT na Câmara se recusam a abrir uma vaga para os oposicionistas no comando da Comissão Parlamentar de Inquérito. A oposição vai esperar a resposta do governo sobre a possibilidade de entregar a presidência ao DEM ou ao PSDB e não indicará nomes para compor a CPI mista criada ontem enquanto não for lido o requerimento para instalar uma CPI só de senadores.
Em uma sessão esvaziada, com cerca de 30 parlamentares, o presidente do Congresso, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), leu o requerimento de CPI mista que vai investigar o mau uso dos cartões corporativos. Os líderes partidários têm até quarta-feira para indicar os integrantes da CPI conjunta da Câmara e do Senado. O PMDB já indicou o senador Neuto de Conto (SC) para a presidência da CPI. O relator será o deputado petista Luiz Sérgio (RJ).
“Ou a gente tem unanimidade na base do governo para ceder um dos cargos para a oposição ou não adianta entrar rachado na CPI para atender a oposição”, argumentou o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), depois de reunir-se com o presidente Lula para discutir a divisão de poder com a oposição na CPI.
No encontro ficou acertado que o presidente Lula não vai se envolver nas negociações sobre a CPI. “O presidente não vai se envolver porque não há unanimidade na base. O presidente Lula está fora do processo”, afirmou Jucá. O presidente Lula é contrário a um acordo com a oposição que permita o compartilhamento do comando da CPI mista. “É uma decisão de governo: o PMDB fica com a presidência e o PT com a relatoria da CPI. Todo mundo do governo é contra abrir mão de um dos cargos”, disse o líder do PSB no Senado, Renato Casagrande. Assim como Jucá, o socialista também é favorável a ceder à reivindicação da oposição.
Os líderes do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), e do PSDB, Arthur Virgílio Neto (AM), avisaram que não vão indicar os integrantes da CPI mista até que saia a decisão formal do governo sobre o comando da comissão. Eles defenderam a criação da CPI formada exclusivamente por senadores para investigar os cartões corporativos. “Até por uma questão pragmática de disponibilidade de número de senadores, defendo que a nossa prioridade seja a CPI só do Senado”, disse Agripino Maia. Segundo ele, o DEM não tem senadores com perfil “investigativo” em número suficiente para participar ao mesmo tempo de duas CPIs: a mista e formada exclusivamente por senadores.
“Não vamos indicar ninguém enquanto não houver uma decisão sobre o comando da CPI mista e também enquanto não for lido o requerimento da CPI só do Senado”, disse Arthur Virgílio. “Agora, sou a favor que participemos da CPI Mista até que fique patente a fraude do governo. Não indicaremos ninguém antes de defender a CPI do Senado”, completou o líder tucano. “Estou a cada dia mais convencido que têm de funcionar as duas comissões de inquérito”, afirmou Virgílio. “Os líderes vão indicar. Se não indicarem, nós indicaremos”, ameaçou Garibaldi Alves.
Os dois líderes de oposição ficaram irritados com Garibaldi Alves que, segundo eles, havia prometido ler na sessão do Senado de ontem à tarde o requerimento da oposição que prevê a criação da CPI integrada apenas por senadores. O requerimento foi apresentado há dois dias, com a assinatura de 33 senadores. O presidente do Senado voltou a dizer que o funcionamento de duas CPIs sobre o mesmo assunto é “inconveniente”. “Não tem lógica. Como é que vão funcionar duas CPIs? Acho muito difícil a compatibilização, vai ser tumultuado”, argumentou Garibaldi.
Confusão |
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Após a sessão esvaziada do Congresso, na qual foi lido o requerimento de criação da CPI, os senadores Mário Couto (PSDB-PA) e Gilvan Borges (PMDB-AP) discutiram no plenário do Senado e chegaram a trocar empurrões. A confusão entre os dois começou depois do discurso de Mário Couto defendendo a CPI. Ele desceu da tribuna do Senado e, com dedo em riste, gritou para Gilvan: “Você nunca mais vai fazer isso. Você tem de respeitar a oposição. Você é um safado”. Imediatamente, Gilvan retrucou aos berros. “Vossa Excelência é um vagabundo, demagogo”. Neste momento, os dois trocaram empurrões. O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) agarrou Mário Couto tirando-o do plenário, que ainda berrou para Gilvan: “Incompetente”. Mario Couto ficou irritado com as críticas pejorativas de Gilvan Borges à CPI dos Cartões Corporativos. |