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A cidade de Goiás, também conhecida como Goiás Velho, é a antiga capital do estado de Goiás. Estabelecido no Ciclo do Ouro, no ano de 1727, o município registra o período colonial que rendeu à cidade o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, conferido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). A cidade recebe visitantes todo o País que a procuram para admirar os casarios antigos e bem conservados, as belas paisagens das cachoeiras e rios, as igrejas centenárias, além de eventos culturais, como a Procissão do Fogaréu, que marca as festividades da Semana Santa.
Além de todos esses atrativos, a cidade também é muito conhecida e visitada pelos amantes da literatura e admiradores da poetisa Cora Coralina. Anna Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas, filha de Francisco Paula Lins Guimarães Peixoto – desembargador nomeado por Dom Pedro II – e de Jacinta Luísa do Couto Brandão, nasceu em 20 de agosto de 1889 e foi criada às margens do Rio Vermelho. Apesar de ter estudado somente até a quarta série, Cora é considerada uma das principais escritoras brasileiras. Começou aos 14 anos de idade, publicando seus textos nos jornais da cidade e redondezas.
Em 1910, a poetisa se casou com o advogado Cantídio Tolentino de Figueiredo Brêtas. No ano seguinte se mu dou para o interior de São Paulo, onde viveu por 45 anos. Inicialmente, o casal residiu nos municípios de Avaré e de Jaboticabal, até que se transferiu para a capital em 1924. Anos depois, com a morte do marido, Cora passou a vender livros para se manter e, mais tarde, retornou ao interior paulista, para a cidade de Penápolis. Em seguida, a escritora se mudou para Andradina, seu último destino antes de retornar às origens, em 1965, quando voltou para Goiás.
Ao completar 50 anos de idade, a poetisa deixou de atender pelo seu nome de batismo e assumiu, definitivamente, o pseudônimo de Cora Coralina. Durante sua trajetória, produziu muitos poemas em que relatou sua história de vida, a cidade onde nasceu e foi criada. Também integrou algumas entidades culturais: Academia Goiana de Letras, Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás, Gabinete Literário Goiano, União Brasileira de Escritores e Academia Brasiliense de Letras.
Nos idos de 1979, Carlos Drumond de Andrade enviou uma carta a Cora em que a lançava como uma grande poetisa para todo o Brasil. Durante anos, o escritor a homenageou em diversas cartas e publicações.
Cora Coralina faleceu em Goiânia, no dia 10 de abril de 1985, deixando uma rica obra literária que se confunde com a história de Goiás. De seus 95 anos de vida, cerca de 80 foram dedicados à escrita e à literatura, e seus textos e poemas sempre retrataram elementos folclóricos regionais que fizeram parte de sua infância e juventude no interior goiano. A primeira edição de seu primeiro livro, “Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais”, foi publicada em 1965, quando a autora já completava 75 anos. A obra reúne os famosos poemas mente. O livro foi impresso pela Universidade Federal de Goiás, com uma imagem dos becos da cidade de Goiás como capa que a transformaram na consagrada poetisa.
Todavia, foi após ter a segunda edição deste livro saudada por Carlos Drumond de Andrade no Jornal do Brasil, em 1980, que a escritora passou a ser conhecida e admirada nacionalmente. O livro foi impresso pela Universidade Federal de Goiás, com uma imagem dos becos da cidade de Goiás cmo capa.
Origens – Cora Coralina passou os primeiros anos de vida em uma casa comprada por sua família no século XIX, uma das primeiras edifi cações da antiga Vila Boa de Goiás. Hoje, o imóvel abriga o Museu Casa de Cora Coralina. Ali o visitante pode realizar uma visita guiada que começa pela cozinha, onde estão os tachos de cobre que Cora usava para fazer doces. O quarto também está como ela deixou, com vestidos pendurados na parede. Seus livros, fotos, cartas, máquina de escrever e inclusive a bengala que a amparou até os últimos dias também estão expostos. Em duas salas, totens reproduzem vídeos em que ela aparece declamando seus poemas. Durante a visita, também é possível conhecer mais sobre as pessoas que fi zeram parte da vida da escritora, como Maria Grampinho, andarilha que perambulava pela cidade carregando sua trouxinha, a quem Cora dedicou um poema (fonte: www.viajeaqui.abril.com.br).
O imóvel integra o conjunto arquitetônico e urbanístico do centro histórico da cidade de Goiás. A casa de Cora fica em frente a uma antiga ponte que sobrepõe o Rio Vermelho. O local é de uma beleza ímpar e foi inspiração para diversos dos poemas da escritora.
Entretanto, toda a beleza e história guardadas pelo conjunto arquitetônico são ameaçadas pela falta de um sistema de drenagem efi ciente e manutenção adequada. Também já foram realizadas intervenções, para solucionar danos causados por enchentes, que, apesar das boas intenções, são realizadas sem os estudos e projetos necessários por moradores e instituições como a Casa de Cora, na tentativa de recuperar e preservar o patrimônio da cidade.
Foi uma situação dessas que originou uma ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal (MPF) contra o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o município de Goiás, a Saneamento de Goiás (Saneago), a Associação Casa de Cora Coralina e uma construtora local. No processo, o MPF pediu a condenação dos acusados à reparação dos danos causados a um imóvel, situado na Rua Senador Eugênio Jardim, também no centro da cidade de Goiás e integrante do patrimônio histórico e artístico nacional, em decorrência das inundações ocorridas em janeiro de 2004. Para tanto, o ente público requereu a elaboração de um projeto de restauração, bem como um estudo sobre o remanejamento do coletor de esgotos da Saneago que margeia o Rio Vermelho e corta a galeria do Beco Vila Rica.
Tudo começou com a instauração de um procedimento administrativo, no âmbito do MPF, objetivando identifi car soluções para um problema de escoamento das águas na galeria pluvial existente sob o imóvel. Para tanto, foi realizada uma reunião com a participação dos proprietários da casa, do Iphan, do município de Goiás, do 8º Subgrupamento de Incêndio do Corpo de Bombeiros, da Saneago, da construtora e da Associação Casa de Cora Coralina.
Na ocasião, a Saneago esclareceu que o estrangulamento na galeria de águas pluviais do Beco Vila Rica, causado pela tubulação de esgoto, seria solucionado por meio de um sistema de compensação de vazão, e que tal obra já estaria em licitação. A companhia alegou também que informou ao Iphan, em 7 de julho de 2005, o início dos trabalhos no Beco Vila Rica, retirando terra acumulada no coletor de esgoto, além da total limpeza e restauração da canaleta que vai do Beco até o Rio Vermelho, serviço feito parte pela Saneago e parte pela Assossiação Casa de Cora Coralina. No entanto, a Saneago alertou não poder afi rmar se o problema estaria resolvido, pois o trecho que atravessa a Rua Eugênio Jardim até o imóvel afetado não havia sido verificado.
Foi aí que começaram os problemas que comprometem não só o imóvel em questão mas todo o conjunto arquitetônico, incluindo a Casa de Cora Coralina. O Iphan realizou uma vistoria no imóvel no dia 6 de janeiro de 2006 e constatou alguns danos decorrentes da intervenção realizada na galeria: a recuperação do calçamento de pedra e da galeria pluvial enrijeceu a pavimentação e o canal, impedindo o extravazamento das águas quando acontece o aumento do volume nos períodos de chuva intensa; a falta de manutenção da galeria ao longo dos anos, acarretando a obstrução do trecho de 30 metros acima do leito do rio; a existência de placas de concreto armado assentadas antes da recuperação da galeria, além da redução considerável da vazão da galeria devido ao diâmetro da manilha lá existente. Assim, foram constatadas lesões que comprometem a integridade física do imóvel, cuja parte central do piso da copa e da cozinha sofreu afundamento.
Ao analisar o processo, o juiz federal Hugo Otávio Tavares Vilela, da 6ª Vara Federal de Goiás, concluiu que apenas a Associação Casa de Cora Coralina, a construtora local, o Iphan e a Saneago podem ser identificados como perpetradores da conduta que resultou nos danos. “Houve uma falha sistêmica de vários órgãos, várias instituições ao mesmo tempo. Uma construtora, o Iphan e também a Associação Casa de Cora. Houve uma falha conjunta para a guarda desse imóvel. Há cerca de cinco conjuntos arquitetônicos. Esse é o Conjunto Casa de Cora, de que faz parte o imóvel desse processo específi co e que foi praticamente todo danifi cado”, explicou o magistrado.
O juiz disse, ainda, que enchentes periódicas ocorrem na região e que, nesse caso, o sistema de canalização de água tinha sido alterado sem a realização de estudo prévio para que a mudança fosse feita de forma segura. Assim, quando a enchente veio, provocou três ou quatro vezes mais danos do que o habitual.
Thainá Salviato
Confira a íntegra dessa reportagem na versão eletrônica da Primeira Região em Revista.
Assessoria de Comunicação Social
Tribunal Regional Federal da 1ª Região