Além do impacto direto nos negócios, a IA está redefinindo a inovação e a eficiência
Por
Gustavo Pessoa
Opinião
Tecnologia promete reconfigurar toda a economia global — Foto: Imagem Valor Econômico
Desde o início dos anos 1990, testemunhei a evolução da internet, transformando-se de uma ferramenta experimental para o alicerce da economia global. As primeiras empresas dotcom enfrentaram ceticismo significativo de bancos e investidores, que viam a internet como uma moda passageira, incapaz de impactar profundamente os negócios. No entanto, a internet prosperou e remodelou indústrias inteiras, tornando-se vital em nossas vidas e em todos os setores da economia.
No final dos anos 1990, a bolha das dotcoms cresceu rapidamente, com startups captando milhões de dólares em investimentos, muitas vezes com modelos de negócios incertos. Quando a bolha estourou em 2000, muitos declararam o fim do sonho da internet. Mas, como previu Rizwan Ali, ex-diretor de grandes bancos: “A internet entregará de 1.000 a 10.000 vezes mais do que o mais otimista empreendedor dotcom jamais sonhou”. Ele estava certo. Após a correção, a internet amadureceu, tornando-se a base da economia digital moderna.
Hoje, estamos em um momento similar com a Inteligência Artificial (IA). Esta tecnologia promete transformar não apenas negócios específicos, mas reconfigurar toda a estrutura da sociedade e da economia, em uma escala que supera a própria internet. Executivos como Sundar Pichai (Google) e Jensen Huang (Nvidia) têm afirmado que a IA será a próxima grande onda transformadora. Pichai declarou: “Com o tempo, a Inteligência Artificial será a maior mudança tecnológica de nossas vidas. Maior que a transição do desktop para o mobile, e talvez maior que a própria internet”.
Essa afirmação, embora audaciosa, é respaldada pelo impacto crescente da IA. A Nvidia, uma líder no desenvolvimento de IA, tornou-se uma das empresas mais valiosas do mundo. No entanto, após a divulgação dos resultados financeiros do segundo trimestre de 2024, as ações da Nvidia sofreram volatilidade, ilustrando que o mercado ainda ajusta suas expectativas sobre o verdadeiro valor da IA. Essa volatilidade marca não o fim, mas o início de um novo capítulo na revolução da IA. Estamos entrando na Fase II dessa evolução tecnológica, na qual seu verdadeiro potencial começará a ser concretizado.
A IA já está impactando diversos setores de maneira significativa. Um exemplo é o arquiteto de sistemas britânico Joe Perkins, que utilizou o modelo GPT-4 para um projeto de desenvolvimento. Um programador experiente cobraria US$ 6.000 e levaria duas semanas para entregar o projeto; o GPT-4 concluiu a tarefa em três horas, a um custo de apenas 11 centavos de dólar. Esse exemplo demonstra a eficiência e a capacidade transformadora da IA, reduzindo custos e aumentando a produtividade.
As projeções para o mercado global de IA são impressionantes. Estima-se que ele atinja US$ 260 bilhões até 2024 e possa chegar a US$ 47 trilhões até 2033, segundo a Dimension Market Research. A Goldman Sachs prevê que a IA contribuirá com um aumento de 1% no crescimento do PIB dos Estados Unidos em 2027, acelerando para 4% em 2034. Além disso, a PwC estima que a IA pode adicionar mais de US$ 15 trilhões à economia global até 2030. Esses números evidenciam uma tendência clara: a IA está se tornando um motor central do crescimento econômico, com potencial para transformar setores e criar novas oportunidades de negócios.
Os avanços da IA também estão impulsionando uma mudança significativa na maneira como as empresas operam. Segundo o MIT Sloan Management, nove em cada dez organizações acreditam que a IA lhes trará vantagens competitivas. Mais da metade das empresas globais já utiliza alguma forma de aprendizado de máquina ou IA, de acordo com a O’Reilly. No setor de saúde, dois em cada cinco médicos já utilizam sistemas computacionais para apoiar diagnósticos, conforme dados da Gartner. Esses exemplos demonstram que a IA não é apenas uma tendência passageira, mas uma tecnologia com aplicações práticas e benefícios tangíveis.
Enquanto a internet nos conectou e nos deu acesso a um vasto oceano de informações, a IA promete transformar a forma como utilizamos esse conhecimento, tornando processos mais eficientes, decisões mais informadas e abrindo novas fronteiras para a inovação.
É importante, porém, reconhecer que a IA ainda é uma tecnologia em evolução. Ela depende do input humano e não é inteiramente autônoma. A IA é um subconjunto do aprendizado de máquina, em que os dados fornecem feedback à máquina, permitindo que ela aprenda com seus erros e se torne mais eficiente. Essa capacidade de autotransformação diferencia a IA de tecnologias anteriores. Sua real inovação reside na habilidade de se corrigir e aprimorar continuamente, tornando-se uma ferramenta poderosa para resolver problemas complexos com maior rapidez e precisão.
Além do impacto direto nos negócios, a IA está redefinindo a inovação e a eficiência. Uma área de grande promessa é a IA generativa, que utiliza modelos como o GPT para criar conteúdo e resolver problemas de forma autônoma. Outra tendência significativa é o uso da IA em Computação de Borda (Edge Computing), no qual a IA é instalada diretamente nos dispositivos para processar dados em tempo real, reduzindo a latência e permitindo respostas mais rápidas e eficientes. Isso é crucial em ambientes onde a velocidade de processamento é vital, como na indústria automotiva e na saúde.
A IA também está desempenhando um papel fundamental na cibersegurança, ajudando a detectar e responder a ameaças de forma mais eficaz. Com a crescente integração com a Internet das Coisas (IoT), a IA está sendo amplamente utilizada para analisar dados de dispositivos conectados, melhorando a eficiência operacional e a tomada de decisões. Essa integração impulsiona a próxima onda de transformação digital, onde a IA e a IoT trabalharão juntas para criar sistemas inteligentes e autônomos, aumentando a eficiência e reduzindo custos.
Diante deste cenário, a conclusão é clara: estamos à beira de uma nova era, na qual a IA será uma força motriz que irá redefinir a economia e a sociedade. Assim como a internet, a IA está prestes a remodelar nosso mundo de maneiras que ainda mal podemos imaginar. Enquanto a internet nos conectou e nos deu acesso a um vasto oceano de informações, a IA promete transformar a forma como utilizamos esse conhecimento, tornando processos mais eficientes, decisões mais informadas e abrindo novas fronteiras para a inovação.
A IA representa não apenas a próxima fase da revolução digital, mas um salto qualitativo em como interagimos com a tecnologia. Ela promete não apenas transformar setores, mas reconfigurar toda a economia global, acelerando a inovação e possibilitando uma nova era de crescimento. Aqueles que aproveitarem essa onda estarão na vanguarda da próxima grande transformação, assim como aqueles que abraçaram a internet nas últimas décadas. A era da IA não está chegando; ela já está aqui. Seu impacto será, sem dúvida, maior do que qualquer coisa que já experimentamos.
Gustavo Pessoa é CEO da Actus Asset
Fonte: Valor Econômcio 09/10/2024
Iris Helena
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