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17/01/2008 19:20 -

Denunciados fazem acusações a Chico Ferreira e à Polícia Federal

Denunciados fazem acusações a Chico Ferreira e à Polícia Federal

O empresário João Batista Ferreira Bastos, o Chico Ferreira, e a Polícia Federal foram alvos de acusações durante interrogatórios prestados nesta quinta-feira, na 3ª Vara Federal, por denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF) em supostos crimes descobertos pela Operação Rêmora, em novembro de 2006.

O juiz federal substituto Leonardo Augusto de Almeida Aguiar, da 3ª Vara, interrogou Miguel Tadeu do Rosário Silva, que chegou a ser sócio por sete meses da Adlim - Consultoria e Serviços; o empresário Roberto Cruz da Silva; o inspetor do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), Rogério Rivelino Machado Gomes, a contadora Tahís Alessandra Nunes de Melo e da empresária Cláudia Cristina Alencar Leal.

Os cinco figuram entre os denunciados por supostos crimes - inclusive formação de quadrilha e sonegação previdenciária - que seriam praticados por grupo econômico formado por empresas que teriam como donos de fato Chico Ferreira e Marcelo Gabriel, filho do ex-governador Almir Gabriel. Chico Ferreira cumpre pena de prisão após ser condenado pela morte dos irmãos Novelino, em abril do ano passado.

Miguel Tadeu, Rogério Rivelino e Thaís fizeram as mais fortes acusações a agentes federais que, em novembro do ano passado, cumpriram diligências que resultaram em dez prisões e na busca e apreensão de documentos, computadores e outros bens de suspeitos durante a Operação Rêmora, deflagrada em Belém, Marabá e Manaus.

Miguel Tadeu contou que trabalhava como motorista de Chico Ferreira na Service Brasil e, enquanto esteve sob a custódia da Polícia Federal, sofreu “pressões psicológicas” da Polícia Federal e por muito pouco não chegou a ser agredido fisicamente. “Acho que seu eu não ficasse calado, poderia até ser (agredido fisicamente). Eu fui o único a prestar depoimento algemado. E fui tão pressionado que cheguei a dizer que era sócio do Chico (Ferreira) na empresa Service Brasil apenas para que eles me liberassem logo e eu voltasse para a cela”, contou o depoente.

Acrescentou que, enquanto permaneceu preso, não contou com a assistência de advogado e não foi informado pela Polícia Federal de que, por lei, teria direito a ficar em silêncio, se assim preferisse. “Ao contrário, eles (agentes federais) diziam sempre que eu tinha que falar, porque seu eu não falasse a minha situação poderia até piorar”, informou Miguel Tadeu.

Ele disse que conheceu Chico Ferreira na década de 90, quando ainda jogava na Tuna Luso Brasileira. Depois, passou a trabalhar com o empresário na empresa Service Brasil. Foi nessa convivência, segundo disse, que Chico Ferreira o estimulou a abrir uma empresa. “Ele me pediu uns documentos meus e abriu pra mim a empresa Adlim - Consultoria e Serviços, que só durou sete meses. Mais tarde, usando esses mesmos documentos, o Chico abriu uma outra empresa em meu nome, a Service Serviços Gerais Ltda., sem que eu soubesse. Só fui saber disso quando fui tomar um empréstimo bancário e tomei conhecimento de que meu nome estava com restrições”, afirmou Miguel Tadeu. Ele afirmou que está movendo na Justiça do Trabalho uma ação contra a Service Brasil, uma vez que não tinha carteira assinada, mas está há seis meses sem receber salário.

Inspetor afirma que PF entrou na casa errada e ameçou dar tiros até num cachorro poodle

O inspetor do TCM Rogério Rivelino Machado Gomes disse que os policiais chegaram à sua casa no dia da Operação Rêmora, em 15 de novembro de 2006, pensando que ali fosse a casa do auditor do TCM Luís Fernando Gonçalves da Costa, que também está entre os denunciados.

“Eu disse para a delegada que a casa era minha, que o carro era meu, que eu não era o Luís Fernando, mas mesmo assim eles entraram na minha casa. E depois, quando passamos para a casa do Luís Fernando, que fica nos fundos da minha, chegou um agente e mostrou à delegada uma escritura pública comprovando que a casa realmente era minha. Mas ela disse que, mesmo assim, a operação deveria continuar”, relatou o inspetor, referindo-se à delegada Gisele Borges Leal, que comandou as diligências em Marabá.

“Eles (os agentes da Polícia Federal) ameaçaram dar tiro até em cachorro, um poodle, porque estava latindo quando chegaram”, afirmou Rogério Rivelino. O funcionário do TCM negou que fosse de sua responsabilidade uma defesa da Prefeitura de Redenção, o que configuraria trabalho incompatível com as funções que desenvolvia. “Isso (a defesa) foi encontrado num HD (o disco rígido de computador) apreendido pela Polícia Federal na casa do Luís Fernando”, assegurou o inspetor.

Rogério garantiu que travou com Luís Fernando apenas “relações profissionais”, mas revelou que ficava com a chave da casa do auditor quando este se ausentava de Marabá. Disse ainda que pagava com dinheiro próprio contas pessoais – como as de luz e telefone - de Luís Fernando, mas posteriormente era ressarcido. Afirmou, por fim, não ter conhecimento de que Luís Fernando prestaria serviços de assessoria a empresas.

Thaís Alessandra disse que trabalhou durante cerca de 11 anos na Service Brasil, empresa dirigida pelo empresário Chico Ferreira. Era responsável pela elaboração de propostas da empresa apresentadas em licitações públicas e por contratos firmados entre a Service e outras empresas da iniciativa privada. “Nisso tudo (no processo em que está envolvida), eu aprendi duas coisas: temer a Deus e não acreditar no que sai na Imprensa”, disse Thaís, que chegou a chorar durante o interrogatório e levou o juiz a suspender a oitiva por alguns minutos para que se recompusesse.

Thaís considerou truculenta a ação de policiais ao ser presa e posteriormente ouvida pela Polícia Federal, em novembro de 2006. “Entraram na minha casa sem que eu soubesse o porquê. Só pedi para que não acordassem o meu filho de oito anos, que estava dormindo. Ele (os agentes da PF) disseram que eu tinha envolvimento num desfalque de R$ 9 milhões. Moro numa casa de apenas R$ 20 mil. Disse aos policiais que se eu tivesse todo aquele dinheiro teria aproveitado pelo menos uma parte para fazer um benefício a mim mesma”, disse Thaís.

Ela afirmou que, a exemplo de Miguel Tadeu, não foi informada pela autoridade que a ouviu na Polícia Federal de que tinha o direito, se quisesse, de ficar em silêncio. Como se achou forçada a falar, preferiu não assinar o termo com as declarações que prestou na Polícia Federal. “Como eu não assinei, um delegado disse que tinha sido bacana comigo, porque não entrou no quarto do meu filho para fazer buscas, mas eu não fui bacana com eles, já que não assinei o termo”, informou a ré, que afirmou nunca ter visto Marcelo Gabriel.

Os dois outros interrogados foram Roberto Cruz da Silva e Cláudia Cristina Alencar Leal. Um dos sócios da empresa Athiva Athiva Administração e Consultoria Ltda., Roberto disse que por pouco tempo participou da composição societária da Clean Service. Ele confirmou informação já prestada pelo próprio dono da Clean, Carlos Maurício Carpes Ettinger, que disse em interrogatório que Marcelo Gabriel conquistou o maior contrato da Athiva até hoje: o de prestação de serviços à Sinart (Sociedade Nacional de Apoio Rodoviário e Turístico), empresa privada que explora o Terminal Rodoviário de Belém. Roberto afirmou que Chico Ferreira e Marcelo não tinham poder de gerência e nem de administração na Clean e na Athiva.

Cláudia Cristina foi uma das sócias da Clean, logo que a empresa foi constituída. Assegurou que a Clean não foi criada a pedido de Chico Ferreira e seus familiares. Afirmou ainda que não se considera “laranja” de qualquer empresa, como consta da denúncia do MPF e não conhece Marcelo Gabriel.

Depois dos depoimentos desta quinta-feira, faltam apenas três denunciados a serem interrogados. Na próxima terça-feira, 22, será ouvido o auditor do Tribunal de Contas dos Municípios Luís Fernando Gonçalves da Costa. Dois dias depois, haverá o depoimento de Marcelo França Gabriel. Chico Ferreira será interrogado por último, no dia 29 de janeiro.


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