O empresário Haroldo Pinto da Silva Júnior informou na manhã desta terça-feira, ao depor na 3ª da Justiça Federal – especializada em ações criminais – que Marcelo Gabriel, filho do ex-governador Almir Gabriel e um dos 18 denunciados por supostos crimes descobertos durante a Operação Rêmora, nunca foi sócio da empresa Athiva Administração e Consultoria Ltda., mas conquistou para a empresa seu maior contrato até hoje: o de prestação de serviços à Sinart (Sociedade Nacional de Apoio Rodoviário e Turístico), empresa privada que explora o Terminal Rodoviário de Belém.
Haroldo, que é sócio da Athiva e chegou a participar do controle societário da Clean Service – também citada na denúncia do MPF - no período de 2002 a 2005, foi ouvido com mais três acusados pelo juiz federal substituto Leonardo Augusto de Almeida Aguiar. Além de Haroldo, foram interrogados José Clóvis Ferreira Bastos e Maria do Socorro Bastos de Oliveira, ambos irmãos de João Batista Ferreira Bastos, o Chico Ferreira, e Luís da Silva Sá Filho.
Na denúncia do Ministério Público Federal (MPF), Chico Ferreira e Marcelo Gabriel são apontados como os donos de fato de suposto grupo econômico integrado por várias empresas – entre elas a Brasil Service, a Service Brasil e a Clean Service –, que teriam à frente “laranjas” e operavam de forma combinada para fraudar processos licitatórios e sonegar encargos previdenciários, em prejuízo do erário e da administração pública. Atualmente, Chico Ferreira cumpre pena de reclusão em regime fechado, após ser condenado a 80 anos como mandante da morte dos irmãos Novelino, crime oorrido em abril do ano passado.
O advogado José Clóvis, primeiro a ser interrogado, confirmou que foi sócio das empresas Alpha Gama Administração E Serviços Ltda., Tática Serviços de Segurança Eletrônica Ltda.e Clean Service. Garantiu que Marcelo Gabriel e Chico Ferreira não tinham qualquer poder de gestão na Alhpa e nem tampouco na Tática. Informou ainda que Marcelo não tinha qualquer poder de gerência na Service Brasil. Disse José Clóvis que os R$ 9.200,00 apreendidos em sua residência, durante a Operação Rêmora, foram recebidos a título de honorários advocatícios por serviços prestados a uma outra empresa cujo nome ele não se recorda.
Haroldo da Silva Jr. informou que foi sócio da Clean de 2002 a 2005. Disse que Marcelo Gabriel presta serviços à Athiva de 2002 até hoje, mas nunca teve poder gestão na empresa. Quanto a Chico Ferreira, o depoente disse que ele nunca integrou o controle societário da Athiva, cujo faturamento mensal disse desconhecer. Explicou que, na prática, a empresa não tem qualquer funcionário em seus quadros, pela natureza dos serviços de consultoria que desenvolve. Por fim, Haroldo informou que, ao contrário do que consta da denúncia do MPF, nunca foi sócio da Service Brasil.
O depoimento de Luís da Silva Sá Filho foi o mais rápido de todos até agora. Durou cerca de 20 minutos. Ele informou ao juízo que figurou como sócio da Clean de janeiro de 2000 a abril de 2001, período em que, conforme garantiu, a empresa prestava serviços apenas de recolhimento de “entulhos” e não tinha contratos com nenhum órgão público.
Acusado dos crimes de formação de quadrilha e falsidade ideológica, Luís Sá Filho negou que, por mais remotamente que seja, tenha participado desses ilícitos e disse que, dos outros 17 denunciados, não conhece qualquer deles, nem mesmo Chico Ferreira e Marcelo Gabriel. Disse ter conhecido “superficialmente” apenas Carlos Maurício Carpes Ettinger, dono da empresa Clean Service, e foi só apresentado a José Clóvis como advogado da Clean.
Última a depor, Maria do Socorro confirmou que ela e a mãe são de fato as sócias da Service Brasil, mas confirmou que a palavra final nos negócios da empresa, quem realmente sempre mandou foi seu irmão Chico Ferreira. “Ele sempre tinha mais experiência. Havia mais de dez anos que ele atuava na área de limpeza”, justificou a depoente.
Maria do Socorro afirmou nem conhecer Marcelo Gabriel e negou ter se associado a qualquer dos demais denunciados para praticar crimes. Disse ainda não ter conhecimento de que a Clean e a Service Brasil integrariam um grupo econômico sob o comando de Chico Ferreira e Marcelo Gabriel.
Com os depoimentos de hoje, já foram ouvidos 11 denunciados. No primeiro dia de interrogatórios, os depoentes foram o ex-presidente do Ipasep, Antônio Carlos Fontelles de Lima; o dono da empresa Brasil Service, Antônio Ferreira Filho, e o ex-auditor fiscal do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Antônio Lúcio Martin de Mello. No segundo dia, o juiz tomou os depoimentos de Carlos Maurício Carpes Ettinger, dono da empresa Clean Service; Jorge Ferreira Bastos, irmão de Chico Ferreira; o contador Carlos Augusto Frederico Martin de Mello, irmão de Antônio Lúcio; e a empresária Fernanda Wanderley de Oliveira, sócia majoritária da empresa Amazon Construções e Serviços Ltda.
Para esta quinta-feira, 17, estão marcados os interrogatórios de Miguel Tadeu do Rosário Silva, Roberto Cruz da Silva, Rogério Rivelino Machado Gomes (inspetor do TCM) e Thaís Alessandra Nunes de Melo. Luís Fernando Gonçalves da Costa será ouvido no dia 22 de janeiro. Dois dias depois, haverá o depoimento de Marcelo França Gabriel. Chico Ferreira vai ser ouvido por último, no dia 29 de janeiro.