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Notícias

19/12/2007 21:03 -

Um Natal para as crianças

Um Natal para as crianças

ANTÔNIO CARLOS ALMEIDA CAMPELO

Juiz Federal Substituto – Seção Judiciária do Pará

Em Altamira, no sudoeste do Pará, entre os anos de 1989 e 1993, 20 menores entre 8 e 14 anos foram vítimas de violência, seis crianças foram assassinadas, oito sobreviveram e seis ainda estão desaparecidas. Os mortos e sobreviventes foram encontrados emasculados.

Há mais de dois mil anos, nasceu um menino, sem fralda, sem plano de saúde, fora de um hospital e sem assistência médica. Depois desse tempo todo, em pleno século XXI, continuam a nascer crianças em todo mundo em iguais condições ou até piores, como as milhares de crianças que nascem já portadoras de HIV na África ou mesmo com subnutrição extrema e que estão fadadas a morrer antes de completar dois anos.

O mundo mudou de forma radical, há pleno acesso a celulares, carros modernos, computadores, DVDs e aparelhos eletrônicos de última geração. Mas, infelizmente, a situação das crianças desamparadas no mundo não mudou. Assim como dos miseráveis. Para a ONU, miserável é aquele que sobrevive com renda familiar de menos de US$ 100, ou seja, aquele que não obtém rendimento para o sustento básico próprio e de sua família. Segundo reportagem de revista de circulação nacional, há mais de 10 milhões de miseráveis no Brasil

Nesta época natalina, há grande probabilidade de você ter passado por uma dessas pessoas e nem ter olhado. Estamos preparando uma grande festa de Natal para nossos familiares, mas hoje mesmo ignoramos uma pessoa com muita semelhança com o aniversariante.

Essa criança cresceu e passou a vida pregando o amor, a fraternidade e a esperança. Porém, com pouco mais de 30 anos, morreu resignado em uma cruz, injustiçada por um crime que não cometeu e dizia que viera para salvar a humanidade.

Porém, ainda hoje não conseguimos implantar as virtudes que ele pregava. Depois de toda essa evolução, ainda guardamos muito ódio, excessivo rancor e estamos desesperançados de um mundo melhor. A criminalidade assombra a todos e nos aprisiona. Não há mais liberdade e ficamos apreensivos pela nossa segurança e de nossos familiares.

Os políticos inescrupulosos lavam as mãos, e hoje essa criança estaria condenada mesmo antes de completar 18 anos, talvez aprisionada em uma cela comum, não com dois bons ladrões, mas com 30 facínoras, estrupadores e homicidas.

A justiça dos homens não funciona ou funciona precariamente, com excessiva demora ou com recursos protelatórios, exatamente como aquela que o condenou à morte por crucificação. E os legisladores nada fazem para alterar o sistema judiciário neste País. E o pior é que sujam as mãos e nada acontece.

Na verdade, nada mudou. Ou melhor, mudou para pior, porque hoje há uma brutal diferença de renda entra as classes sociais, onde 90% do produto interno de um país concentra-se nas mãos de menos de 10% da população. Os mais ricos continuam cada vez mais ricos e os mais pobres somente tem acesso a bolsas governamentais com fins eleitorais.

A educação vem se deteriorando a cada ano em nosso País e a saúde é precária, não há médicos suficientes, as filas são imensas e os remédios escasseiam nos postos.

Enfim, não temos muito o que comemorar neste final de 2007, mas pelo menos vamos comemorar o dom da vida e que no ano de 2008 não haja tantas crianças sofrendo com doenças, com fome ou sem família. Pelo menos isso.

Feliz Natal a todos.

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