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20/05/2016 20:00 - ESPECIAL

Viver com Parkinson

Crédito: Imagem da webESPECIAL: Viver com Parkinson

Conhecida pelos tremores nas mãos, a doença ou mal de Parkinson é uma condição degenerativa neurológica que pode causar distúrbios do movimento. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 1% da população mundial com idade acima dos 65 anos tem Parkinson. Já no Brasil, estima-se que cerca de 200 mil pessoas sofram com o problema. A cura ainda não foi alcançada, mas há estudos em nível experimental sobre o tratamento com células-tronco.

Apesar de mais incidente na população idosa, a doença pode atingir indivíduos de ambos os sexos e em qualquer idade. Em todas as situações, o diagnóstico precoce é determinante para a melhoria da qualidade de vida e o controle dos sintomas que não se restringem aos tremores.

O neurocirurgião e mestre em Ciências da Saúde André Meireles Borba explica melhor a doença e como ela afeta o corpo. “O Mal de Parkinson ou doença de Parkinson é um distúrbio involuntário do movimento e consiste em uma moléstia degenerativa e crônica que acomete progressivamente o sistema nervoso central. Em uma determinada região do cérebro, nos núcleos da base, existe um delicado circuito que controla os movimentos do corpo e a doença provoca a perda progressiva dos neurônios envolvidos com esse circuito, o que leva a redução dos níveis da dopamina, um neurotransmissor essencial para seu funcionamento adequado. Para ilustrar, um dos achados macroscópicos clássicos da patologia é a descoloração da substância negra do mesencéfalo, região que faz parte do circuito do movimento e é rica em dopamina”.

A doença foi descrita pela primeira vez em 1817 pelo médico inglês James Parkinson e, no Brasil, o Calendário Anual da Saúde reserva o dia 4 de abril como o Dia Nacional do Parkinsoniano. A data tem por objetivo conscientizar e alertar a sociedade sobre o mal de Parkinson e esclarecer quanto aos sintomas, bem como as formas de retardar seu agravamento.

Esse trabalho de conscientização é importante, pois existem doenças nas quais vários sintomas são semelhantes aos do mal de Parkinson, enquanto alguns outros achados são distintos, caracterizando uma “síndrome Parkinsoniana” que é diferente do mal de Parkinson propriamente dito. Essas patologias podem ser agrupadas como “parkinsonismo” ou parkinsonismo atípico. Nelas o circuito dopaminérgico pode estar alterado por outros motivos (infarto cerebral, demência, medicamentos, etc...) e a sua abordagem pode ser diferente da doença clássica.

A neurologista Monalisa da Silveira Dias é especialista em distúrbios do movimento e explica que o diagnóstico é baseado em critérios obtidos através da história clínica e exame físico minucioso. Detalhes são importantes como, por exemplo, o fato de que a doença costuma iniciar de um lado do corpo e passa a envolver o outro lado com a progressão do quadro. Existem manifestações não-motoras (distúrbios cognitivos, psiquiátricos e autonômicos) e motoras. Destas últimas, a especialista destaca quatro sintomas clássicos:

1. Tremor em repouso: predomina nas extremidades e nota-se, por exemplo, movimento entre o polegar e o indicador caracterizado como “rolar de pílulas” ou “contar dinheiro”, exacerbando-se quando caminha e em situações de estresse emocional. Por outro lado, diminui quando o local afetado é movimentado voluntariamente.

2. Rigidez: um tipo especial de ação muscular involuntária caracterizada por resistência ao movimento passivo. Trata-se de uma dificuldade na mobilização dos membros quando esses estão parados e outra pessoa tenta movê-los. Na doença de Parkinson essa rigidez é graduada, do tipo “roda denteada”, característica desse tipo de lesão nos núcleos da base.

3. Bradicinesia: é o conjunto de alterações mais comum. Significa uma lentidão e diminuição de amplitude dos movimentos. O andar torna-se lento, com passo curto que pode piorar até a apenas arrastar os pés. Ocorre a diminuição no balanço dos braços quando caminha. Leva ainda, por exemplo, a perda na expressão facial, a fala torna-se baixa e apresenta dificuldade para deglutir.

4. Instabilidade postural: resultado de perda de reflexos e de readaptação da postura. Mais comum em fases avançadas da doença. Percebe-se quando realiza mudanças bruscas na direção ao caminhar. Leva a quedas frequentes e até a incapacidade de ficar em pé sem auxílio.


“Distinguir a doença de Parkinson de outras desordens é necessário para o manejo e para a expectativa de resultados. Existe uma longa lista de causas que podem simular o problema. A história clínica e um exame físico primoroso são as ferramenta essenciais. Apenas após estes pode-se determinar a necessidade de exames adicionais de imagem, como ressonância magnética, ou laboratoriais, como estudos no sangue e no líquido céfalo-raquidiano”, destaca Monalisa.

Para a doença de Parkinson ainda não foi descoberta uma cura, mas existe tratamento cujo objetivo é o controle dos sintomas. O processo envolve uso de medicações que vão repor os níveis da dopamina ou fazer com que os circuitos dopaminérgicos trabalhem de forma otimizada.

Além dos medicamentos, é essencial que o paciente realize uma rotina interdisciplinar de atividades para ajudar no controle do quadro. “É essencial a reabilitação multidisciplinar. O acompanhamento regular por um serviço de neurologia é uma parte importante do tratamento e, além disso, o suporte com fisioterapia, fonoaudiologia, psicologia e eventualmente outras especialidades médicas busca diminuir complicações, garantir o sucesso do tratamento e a melhor qualidade de vida para o portador da doença de Parkinson”, ratificam os especialistas André Borba e Monalisa Dias.

Algumas práticas também são indicadas para quem convive com o Parkinson:

1. Terapia ocupacional: O terapeuta é o profissional que poderá orientar o paciente com o objetivo de facilitar as atividades do dia a dia, bem como indicar condutas que propiciem independência para a higiene pessoal e reinserção profissional.

2. Fonoaudiologia: Os problemas com a fala ocorrem devido à falta de coordenação e à redução do movimento dos músculos que controlam os órgãos responsáveis pela produção dos sons da fala. A reabilitação da comunicação é uma terapia dirigida à fala e à voz que pode ajudar o paciente a conservar, apesar da doença, uma fala compreensível e bem modulada e, dessa maneira, manter um contato mais efetivo com seus semelhantes.

3. Fisioterapia: É uma área da saúde que busca promover, reeducar e manter o movimento corporal. Por ser uma doença que pode trazer algumas limitações físicas, é importante que seja feito o tratamento desde o diagnóstico. A fisioterapeuta da clínica Pró Physis, em Brasília, Almirene Amirato é especialista em RPG e Pilates. Ela esclarece sobre a importância da fisioterapia no processo do tratamento. “Deve ser incluída logo no início do tratamento do Parkinson. O objetivo é ajudar a trazer um melhor funcionamento dos membros acometidos por meio de exercícios e orientações”.


A fisioterapeuta explica quais atividades auxiliam no tratamento e ainda destaca a importância do apoio familiar nesse processo. “Além do Pilates e da reeducação postural, conhecida como o RPG, a hidroterapia também pode ajudar. Todas essas modalidades devem ser realizadas de forma regular e com a supervisão de um fisioterapeuta. Outra ajuda importante é a participação da família, pois o paciente precisa ser estimulado várias vezes ao dia e sentir o apoio dos familiares”, explicou.

A neurologista Monalisa Dias ainda destaca que é importante perceber que as limitações de uma pessoa com essa doença podem ser causadas por complicações secundárias de diversas naturezas, como a depressão, que é uma condição comum nesses pacientes. Pessoas com “Parkinson também estão mais sujeitas a degeneração da coluna vertebral, a qual pode ser até mais limitante que a própria doença inicial. São ainda pacientes com dificuldade de marcha e alto risco de quedas”.

Alternativa

Em alguns casos, o tratamento medicamentoso pode perder a capacidade de controlar os sintomas da doença e, nessas situações, o paciente deve ser avaliado por uma equipe multidisciplinar quanto a possibilidade de cirurgia. A técnica mais promissora entre as desenvolvidas ao longo dos anos é a estimulação cerebral profunda, que consiste em introduzir um microeletrodo em uma das regiões cerebrais envolvidas com o circuito do controle dos movimentos. “A corrente elétrica nesse sistema interfere com o funcionamento dos gânglios da base e pode ser capaz de recuperar o funcionamento dessas regiões de uma maneira bem próxima ao normal por vários anos”, explica o neurocirurgião André Borba.

No dia 9 de março um procedimento como este foi realizado pela primeira vez pelo Sistema Único de Saúde (SUS), no Hospital São Benedito, em Cuiabá/MT. A paciente foi uma dona de casa de 48 anos diagnosticada com a doença aos 38 anos, quando começou a sofrer com os tremores que, ao longo dos anos, só pioraram. Foram 10 anos fazendo tratamento, mas os remédios pararam de fazer efeito e a paciente perdeu a capacidade de realizar simples tarefas como comer, beber água e tomar banho.

O procedimento, no entanto, não é apropriado para todos as pessoas com Parkinson. A cirurgia é indicada apenas para pacientes que apresentam sintomas motores da doença, mas que ainda preservam as funções cognitivas. Àqueles que já apresentam problemas de memória, alterações comportamentais e síndrome demencial o método não é indicado.

Os médicos explicam que, até o momento, não há nada que possa evitar a degeneração do circuito neuronal. Não se consegue impedir a progressão da doença de Parkinson propriamente dita. Nos casos atípicos, quando se encontra uma outra causa para os sintomas, pode-se tentar controlar o agente nocivo.

Um dos pacientes mais famosos com doença de Parkinson é o ator Michael J. Fox, internacionalmente conhecido pelos filmes da sequência “De Volta para o Futuro”. Após ser diagnosticado com o mal ele criou uma fundação com seu nome e que é responsável por grandes incentivos na pesquisa de uma cura para a doença envolvendo o uso de células-tronco.

Direitos

A legislação brasileira estabelece um rol de doenças graves, cujos pacientes podem usufruir de alguns direitos e garantias especiais. Na Portaria Interministerial MPAS/MS nº 2.998, publicada pelos Ministérios da Previdência e Assistência Social e da Saúde, em 23 de agosto de 2001, estão relacionadas essas doenças e entre elas está o mal de Parkinson.

Os portadores da doença de Parkinson têm direito à isenção de vários impostos, como do Imposto de Renda (IR), conforme assegura a Lei nº 7.713/88, de 22 de dezembro de 1998. Estão previstas também isenções de outros impostos e tributos como do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), na aquisição de veículos, no uso de transporte público coletivo, além de o direito ao resgate do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do direito à aposentadoria por invalidez e ao acesso aos medicamentos de forma gratuita, pois o Ministério da Saúde disponibiliza medicamentos para a doença de Parkinson no SUS.

É importante lembrar que para ter acesso aos benefícios garantidos por lei no caso das isenções de impostos é preciso ficar atento aos documentos exigidos pela Receita Federal. São eles:

1. Laudo pericial detalhado emitido por um perito credenciado nos órgãos oficiais de saúde;

2. Laudo do médico que acompanha o paciente com o diagnóstico de alienação mental, a primeira vez que percebeu o problema e a data em que iniciou o tratamento;

3. Uma carta com os dados pessoais da pessoa que está pedindo a isenção do imposto;

4. Todos os exames, receitas e relatórios relativos à doença, inclusive os mais antigos.


Abgail Suélen/Thainá Salviato

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Tribunal Regional Federal da 1ª Região


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