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01/06/2023 08:00 - INSTITUCIONAL

TRF 1ª Região promove reflexão sobre maternidade e culpa

INSTITUCIONAL: TRF 1ª Região promove reflexão sobre maternidade e culpa

Como parte das comemorações do Dia das Mães, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) realizou nesta quarta-feira, dia 31 de maio, evento institucional com o objetivo de promover, no âmbito do Tribunal e de todas as Seções e Subseções Judiciárias, uma reflexão social sobre a vivência da maternidade e do impacto dela na vida das mães e dos filhos.

Dentro do escopo do Grupo IV do Plano de Logística Sustentável da 1ª Região, a palestra “Mãe, será que a Culpa é sua?” reuniu, em ambiente virtual, o corpo funcional da Justiça Federal da 1ª Região (JF1) para tratar da necessidade de compreender construções sociais de culpabilidade relacionada à maternidade, com o fim principal de contribuir para a saúde, a qualidade de vida e o bem-estar de todos.

A convidada que apresentou o encontro foi a jornalista Ana Fabre. Formada pela Universidade de Brasília (Unb), em quase 20 anos de carreira atuou em diversas redações e emissoras de rádio e TV, além de ter trabalhado como assessora de imprensa em órgãos e entidades. Após ter se tornado mãe de uma menina, sentiu a necessidade de mudar de profissão e iniciar estudos e cursos sobre o universo feminino, autoconhecimento, desenvolvimento pessoal e autoestima. Tendo obtido a certificação Analista Estima, tornou-se especialista em autoestima feminina e hoje auxilia mulheres a melhorarem a performance em todas as áreas.

Em sua palestra, Ana Fabre centrou as discussões sobre o papel das narrativas na construção da culpabilidade, os efeitos dessa culpabilidade construída na vivência da maternidade e a necessidade de se refletir sobre as concepções que regem a forma de ser mãe, inclusive para que a vida dos filhos possa ser mais feliz.

Por trás da culpabilidade - “Existe uma frase muito dita na maternidade: nasce uma mãe, nasce uma culpa. Eu acho essa frase horrível - e a gente precisa parar de repetir essa frase, para que ela deixe de existir. Culpa e maternidade não deveriam estar na mesma frase, no mesmo contexto”, assim começou a palestra a jornalista Ana Fabre, salientando que a desconstrução da culpa exige compreender de onde ela vem, como atua e porque a maternidade é associada à culpa.

Em primeiro lugar, Ana Fabre apresentou o conceito de culpa como a “consciência mais ou menos penosa de ter descumprido uma norma social e/ou compromisso (afetivo, moral, institucional) assumido livremente” e também como a “responsabilidade por dano, mal e desastre causado a outrem”. “É um significado muito forte, o significado do que é culpa. Saindo do significado literal e trazendo para a prática, com um pouco de filosofia, é um mecanismo interno que trava nosso caminho à evolução”, foi a análise da jornalista.

Para além do papel de mãe, ela se voltou para a associação da culpa à mulher, a partir das interpretações de histórias e mitos de grande repercussão social. Mencionou, a título de exemplo, “Adão e Eva” e o mito de “Pandora”, do qual se teriam emanado crenças de males advindos sob a responsabilidade principal da mulher.

“São histórias que fazem parte de uma narrativa que traz culpa e peso”, ponderou a palestrante. “Essas histórias não trazem mais tanto peso assim - mas esse sistema vai se atualizando para trazer culpa para as mulheres”, acrescentou. “Como o sistema arrumou um jeito de continuar trazendo culpa? Por meio da maternidade e conciliação com outras tarefas que a gente tem na vida”, mencionou.

Para esclarecer o ponto, ela afirmou que o sistema atualmente trabalha a partir de um paradoxo de cobrança. “Querem que a gente trabalhe, estude e empreenda como se a gente não tivesse filho - e querem que a gente seja mãe como se a gente não trabalhasse, não estudasse e não empreendesse”, pontuou Ana Fabre.

Além dessa cobrança, a jornalista afirmou que existe a narrativa em cima da maternidade que culpa a mãe por todos os males causados a todos os filhos; em contraponto, relembrou a frase “É preciso uma aldeia para criar uma criança”. “O trabalho de uma mãe, que dizem que é só da mãe, ele é praticamente impossível de ser cumprido por uma só pessoa”, afirmou. E reforçou: “A gente precisa se libertar dessa culpa de ser responsável pelos males dos filhos - isso é só uma narrativa - é uma construção que não condiz com a realidade”, concluiu.

Abandonar o ciclo de culpabilidade - Mas como sair desse ciclo de “achar que dá conta de tudo”? O primeiro passo, apontou Ana Fabre, depois de já ter compreendido que existem narrativas de culpabilidade, é obter informação, e informação confiável e de qualidade.

Nesse sentido, ela fez um contraponto entre duas reportagens que apontam relação entre a ausência da mãe tanto com o sobrepeso quanto com o baixo peso de uma criança, e uma outra notícia, com base em estudo com mais 50 mil pessoas, que apontou que o efeito sobre os filhos das mães que trabalham fora de casa é positivo. O estudo da Harvard Business School apontava que ter uma mãe trabalhando fora de casa trazia vantagens, ao contrário do que diz o senso comum.

“Depois de se munir de informação séria e científica, precisamos entender um fato que é primordial para a construção da autoestima e para a construção de um ser humano integral, inteiro: se eu não me cuido em primeiro lugar, eu não consigo cuidar plenamente de ninguém”, frisou. E deu o exemplo da orientação dada em aviões a respeito da máscara de oxigênio: “Primeiro, você deve colocar em você, e depois em quem está precisando. Se eu não tenho oxigênio, eu não consigo ajudar ninguém”, comentou.

Não salvar nem a si e nem aos filhos é o que acontece com as mulheres que abrem totalmente mão de si mesmas para cuidar de outros, e que seguem esse caminho por acreditarem que existe culpa em um comportamento contrário, afirmou a jornalista.

“Eu sou mãe. Mas quando me perguntam qual é a pessoa mais importante da minha vida, a resposta esperada é que eu diga é que é minha filha, mas eu não respondo isso. Eu digo que eu sou a pessoa mais importante da minha vida. Não adianta eu colocar a Maria em primeiro lugar se eu não estiver inteira. Em algum momento essa conta não vai fechar”, explicou.

O principal ponto desse raciocínio, ponderou a jornalista Ana Fabre, é compreender que não se trata de abandonar o filho, mas saber estabelecer a prioridade do autocuidado. E, para isso, mencionou a teoria presente em um livro chamado “Maternidade e o encontro com a própria sombra”, cuja autora é Laura Gutman.

Segundo essa teoria, mãe e filho vivem juntos dentro de uma piscina emocional. Em uma piscina, quando a água é mexida em algum ponto, é impossível evitar que chegue a todos. “Se a água da mãe não está boa, a do filho também não estará”, asseverou. “Se a gente não cuida da mãe primeiro, vai ter reflexo no filho”, acrescentou ainda. “Cuidar de si mesma não é um egoísmo, é uma necessidade”.

Por fim, a palestrante passou junto aos participantes um curta chamado “O Cordão”, disponível na plataforma YouTube, retratando o prejuízo de ser a mãe que abre mão de tudo, inclusive de si mesma, para ser mãe exclusivamente.

Antes de finalizar o encontro, a jornalista Ana Fabre lembrou ainda que é preciso quebrar o conceito de mãe super-heroína ou divina, pois essas ideias retiram dela a humanidade. “O problema de colocar a mãe no pedestal de divindade e super-heroína que realiza coisas sobre-humanas é que [nesses conceitos] elas não têm necessidades básicas que um ser humano tem”, afirmou.

Para a palestrante, as narrativas têm força e viram realidade na nossa vida. “Cabe a cada uma ir mudando o próprio discurso para mudar o discurso de todo mundo”, afirmou. “Mãe são humanas”, salientou. “A gente gera, mas a criação, educação e responsabilidade não são únicas e exclusivas de nós, mães. A gente não tem que exercer o trabalho de uma tribo. Meu pedido final e reflexão final é esse: vamos humanizar as mães”, concluiu.

O evento - A palestra foi transmitida no canal do YouTube do TRF1, e ficará disponível na íntegra para visualização dos interessados. No mesmo dia, foi realizado um sorteio para presentear uma mãe com um ensaio fotográfico, e a servidora Claudia Bernal, da Assessoria de Comunicação Social do TRF1, foi a sorteada.

AL

Assessoria de Comunicação Social
Tribunal Regional Federal da 1ª Região


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