Após a abertura, para falar sobre “A mulher na ciência e no cotidiano: conquista e resiliência”, a Escola de Magistratura Federal da 1ª Região (Esmaf) contou com a experiência de Margareth Dalcolmo, médica e professora, titular da Academia Nacional de Medicina, responsável pela primeira palestra do evento “Mulheres inspiradoras em prol da saúde e contra o assédio”.
Atual presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia, Margareth Dalcolmo é médica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e consultora da Organização Mundial da Saúde (OMS) para fármacos essenciais, tendo sido autora do premiado livro “Um tempo para não esquecer: a visão da ciência no enfrentamento da pandemia do coronavírus e o futuro da saúde”, lançado em 2022.
Logo ao começar sua fala, ela manifestou o caráter essencial de alegria e luta de sua explanação sobre a participação das mulheres na ciência, mencionado exemplos recentes de resiliência que alcançaram o merecido prestígio. Nesse sentido, Margareth citou a recém concessão do Prêmio Nobel de Medicina à pesquisadora húngara Katalin Karikó, que recebeu a honraria conjuntamente ao pesquisador Drew Weissman neste ano de 2023.
“Professora que lutou e sofreu todos os tipos de discriminação e não reconhecimento do seu imenso potencial na criação da plataforma de RNA mensageiro, que foi aquela que efetivamente salvou milhões de vida no planeta e aquela que é modelo, a partir de agora, fórmulas e plataformas de novas vacinas e novos medicamentos”, registrou, contando brevemente a história da médica, que saiu de um contexto de marginalidade, não aceitação, para o recebimento dessa grande honraria.
Resiliência
A partir do exemplo da húngara katalin Karikó, Margareth Dalcolmo quis exemplificar o que é a resiliência a que se atribui às mulheres em especial, citando ainda a situação vivida por muitas delas durante a pandemia. Chefiando os lares, muitas tiveram que trabalhar dobrado e suportar a violência doméstica. “Tudo isso nós vimos de perto”, afirmou a médica da Fiocruz.
“Num País como o Brasil, se nós não começarmos o nosso dia nos constrangendo pela sociedade excludente que nós vivemos, tanto socialmente quanto em relação às mulheres, certamente nós não vamos começar o nosso dia inspirados para nossos trabalhos sejam eles pedagógicos, médicos, ou na Justiça, onde quer que seja”, frisou.
Sobre exemplos de obstinação, falou brevemente da vida de mulheres como Marie Curie, Rita Levi e Nise da Silveira, que lutaram pela dignidade dos pacientes psiquiátricos.
Entre outros pontos, Margareth Dalcolmo falou sobre o fato de as mulheres representarem hoje, na medicina, 52% da força de trabalho, e o espanto em ainda ser necessário falar de paridade em pleno século XXI, quando se percebe que a participação das mulheres nos concursos e nos cargos tem se mostrado bastante intensa, mas ainda é preciso discutir igualdade.
Saúde
Ao falar sobre o que fez aumentar a expectativa das mulheres no Brasil, Margareth mencionou o papel das vacinas e das linhas de cuidado que precisam ser dadas às mulheres, em especial desde a adolescência.
Citou problemas comuns e passíveis de prevenção que atingem as mulheres, como o câncer de colo de útero, e mencionou também o câncer de pulmão, ligando-o também a uma época em que o ato de fumar significava uma espécie de “libertação” e “glamour”, fazendo com que hoje a tragédia dessa doença afete mulheres quase na mesma incidência que afeta os homens.
“Não existe uma medicina que tenha que ser para homens ou para mulheres. Existe uma medicina que tem que ser cidadã e que exige que conquistas já feitas no Brasil sejam asseguradas”, salientou.
Pós-pandemia, a médica falou ainda sobre o aumento da taxa de suicídios e a queda nas taxas de vacinação e no número de mulheres que fazem exames preventivos.
Paridade
Ao concluir sua palestra, Margareth Dalcolmo manifestou o desejo de permanecer lado a lado em luta pela paridade também na ciência, na qual considera que ainda falta trilhar um caminho com equidade, respeito e, sobretudo, com muita solidariedade humana.
Convidada para debatedora dessa primeira palestra, a presidente da Associação Nacional das Defensoras e Defensores Públicos Federais (ANADEF) Luciana Dytz agradeceu o papel desempenhado por Margareth durante a pandemia e reforçou a necessidade pela luta contra invisibilidade das mulheres, mencionando ainda atuação das defensorias durante o tempo da crise provocada pela Covid-19.
A gravação completa com as palestras da manhã está disponível no Portal da Esmaf no Youtube.
AL
Assessoria de Comunicação Social
Tribunal Regional Federal da 1ª Região